25/10/2017

A PROPÓSITO DE UMA DECISÃO JUDICIAL E NÃO SÓ

Por SANDRA BERNARDINO

A decisão proferida pelo Tribunal da Relação do Porto, no passado dia 11, em que o adultério de uma mulher foi usado como argumento para tolerar o crime de violência doméstica, ainda está na ordem do dia. E ainda bem.
  
Esperemos que este assunto permaneça durante muito tempo na memória das pessoas.

Esperemos que este assunto não seja rapidamente esquecido por uma qualquer notícia que venha a aguçar o apetite dos consumidores de celeumas vazias e desprovidas de qualquer interesse. Tenho esperança, mas pouca.

A vida tende a ser vivida à velocidade da luz e raramente dedicamos algum tempo a pensar nos assuntos com a profundidade que os mesmos merecem.

Esta decisão deverá ser alvo de análise profunda, não devendo circunscrever-se à Justiça, mas antes a todos os aspectos da vida em sociedade, à forma como nos relacionamos com o outro, à forma como educamos os nossos filhos e, claro está, à forma como deixamos que a política seja exercida.

Porque todos temos “culpa no cartório”, quanto mais não seja, por omissão.

Se nada fizermos perante injustiças, se aceitamos as irregularidades como normalidades, se desvalorizamos ilegalidades, estamos a compactuar com as mesmas.

É uma questão de mentalidade e, essa, não é fácil de mudar.

E como é fácil de constatar, ainda há muito “boa” gente com mentalidade retrógrada, de ideais ultrapassados, assente em justificações que mais parecem saídas de tempos medievais.

O que mais perturba são, precisamente, as justificações usadas pelos que têm esta mentalidade.

A mim, particularmente, agonia-me que quem tenha esta mentalidade invoque, levianamente, a Bíblia e, como agora está na moda, recorra a frases ditas pelo Papa Francisco.

Porque é muito fácil subverter o que há de mais correcto e puro…

Temos é de ter a capacidade de nos distanciar, de não nos deixar levar, de pensar pela nossa cabeça e de agir. Mesmo que essa acção nos traga incómodos. E normalmente traz.