06/09/2018

ENTREVISTA DO VEREADOR DO JPNT AO JORNAL "NOTÍCIAS DE ESPOSENDE"

Ficou surpreendido com os resultados das últimas eleições autárquicas? Que explicação encontra para esses mesmos resultados? 

Mentiria se dissesse que não fiquei surpreendido. Sabia de antemão que seria uma luta extremamente difícil e muito desigual, mas pelo que ia ouvindo das pessoas, quer nas críticas ao desempenho do presidente da Câmara, quer nos pedidos que me faziam insistentemente para regressar ao desempenho das funções, apostava claramente num resultado mais equilibrado. Importa referir que não tomei a decisão de me candidatar sem ouvir antes um conjunto bastante alargado de pessoas, nomeadamente autarcas de freguesia do PSD, que sempre se manifestaram favoráveis a uma candidatura minha, fruto do seu próprio desencanto e desagradado com o desempenho do meu sucessor. Muitos deles, meses depois, voltaram a ser candidatos pelo PSD e voltaram a apoiar com grande convicção (ou talvez não) o candidato do partido à Câmara Municipal. Infelizmente a política é mesmo assim. Por clubismo ou a troco de qualquer coisa, facilmente se muda de opinião ou se dá o dito por não dito. Quanto à explicação para os resultados, julgo que contribuíram um conjunto de fatores: desde logo o número significativo de pessoas que terá votado PSD pensando que estaria a votar em João Cepa; o facto dos restantes partidos terem escolhido o JPNT como alvo a abater, direcionando a sua campanha contra o movimento e poupando dessa forma o PSD; o voto útil de algum eleitorado PS e CDS, que prefere Benjamim Pereira a João Cepa na presidência da câmara municipal; um PSD que se sentiu ameaçado, que tocou a rebate, e que trabalhou como nunca tinha trabalhado em campanha eleitoral em defesa do partido; a implementação de uma política de subsídio e de obras à porta das eleições, política que já tinha caído em desuso, mas que funcionou em Esposende; a gigantesca campanha de promoção da imagem do presidente da Câmara, nomeadamente através da distribuição massiva dos boletins municipais, campanha paga com o dinheiro dos munícipes; mas acima de tudo e principalmente, a campanha vergonhosa de calúnia e de difamação à minha pessoa, que foi orquestrada e implementada desde muito cedo (começou em abril de 2014), tentando numa primeira fase impedir-me de ser candidato e numa segunda fase, e porque a primeira não resultou, tentando virar a opinião pública contra mim. Inventaram-se e difundiram-se as coisas mais inacreditáveis a meu respeito. Poderia dar imensos exemplos, principalmente no campo da seriedade ou falta dela, mas dou apenas um exemplo de natureza estritamente política: um candidato do PSD a uma Junta de Freguesia, levou pessoalmente a mensagem a todas as casas dessa mesma freguesia, de que o João Cepa tinha deixado a presidência da Câmara em 2013 não por ser obrigado pela limitação de mandatos, mas porque tinha deixado o Município praticamente na falência e que agora queria regressar porque a situação financeira já era novamente boa. Estas mensagens foram difundidas não só por responsáveis políticos e candidatos, mas também por alguns empresários da nossa praça, que se empenharam nas eleições como se fossem eles próprios candidatos, vá-se lá saber porquê. Jogou-se muito, muito sujo nestas eleições. O que mais me entristece é que muita gente se tenha deixado levar e tenha acreditado em tanta mentira. 


Arrepende-se de ter sido candidato como independentemente à presidência da Câmara Municipal de Esposende? Se voltasse atrás no tempo voltaria a ser candidato? 


Eu só me arrependo daquilo que não faço. Se tivesse optado por não ser candidato, ter-me-ia arrependido. É certo que somos todos muito bons a dar palpites à posteriori, mas também é legítimo recorrermos à expressão “se soubesse o que sei hoje”. E se soubesse o que sei hoje, por mim teria sido novamente candidato e sem qualquer tipo de hesitação, porque o fiz com toda a convicção e na certeza de que dessa forma estava a defender o interesse do Município. Contudo, não posso ficar indiferente ao facto de, ao ser candidato, ter envolvido um conjunto de pessoas na candidatura que hoje, num concelho em que a “democracia” e a “liberdade” são meras palavras de dicionário, estão a sofrer represálias pelo facto de terem tido a coragem de enfrentar o Poder. Se dediquei grande parte da minha vida a tentar ajudar as pessoas a resolverem e a ultrapassarem problemas, o que menos quero é criar-lhes problemas. Aos que tiveram a coragem de me acompanhar, serei eternamente grato, e àqueles a quem criei problemas só posso mesmo pedir desculpa. 


Saiu deste processo ainda mais desiludido com a política? 


Com a política não, porque nunca me iludi com ela. Saí deste processo muito mais desiludido com as pessoas. Não com aquelas que não me apoiaram e/ou não votaram em mim. Em democracia cada qual é livre de fazer as opções que entender, tenha as motivações que tiver. Saí desiludido sim com aquelas pessoas que se fizeram passar por minhas amigas durante anos e que permitiram, participaram, aplaudiram e em muitos casos incentivaram, a campanha vergonhosa de calúnia e de difamação de que fui alvo. A essas não perdoo, principalmente aquelas com as quais criei laços de amizade antes de ser presidente da câmara. Apesar de tudo saí mais rico como ser humano desta experiência. Fiquei a conhecer melhor as pessoas e aquilo que as move. 


E recuando um pouco mais no tempo, em termos políticos, voltaria a tomar as mesmas decisões que tomou? 


Como sempre tomei decisões com a convicção de que eram as mais corretas, naturalmente que as voltaria a tomar. Mas tal como já referi podemos sempre recorrer ao “se soubesse o que sei hoje”. E se soubesse o que sei hoje, naturalmente que teria ponderado melhor algumas dessas decisões. Há convites que fiz que nunca teria feito, há “sins” que disse que nunca teria dito, há prioridades que defini que nunca teria definido, há amizades que permiti que nunca teria permitido. 


Como viu a participação ativa de Alberto Figueiredo na campanha do PSD e o seu apoio a Benjamim Pereira? E como vê este seu reaparecimento no espaço político local, através da participação em iniciativas municipais e da publicação de entrevistas de carácter político? 


Como ponto prévio, quero deixar desde já claro que por mais razões de queixa que possa ter ou que possa vir a ter de Alberto Figueiredo, nunca ninguém me ouvirá dizer publicamente algo menos abonatório em relação à sua pessoa. Foi um extraordinário autarca, e bastaria isso para merecer todo o meu respeito, mas foi acima de tudo uma pessoa com quem aprendi imenso, nomeadamente a colocar sempre os interesses do concelho acima dos interesses partidários. E é por esta razão, e porque sei que não é um praticante do “olhai para o que eu digo, não olheis para o que eu faço”, que não concordo com quem defende que o seu envolvimento na última campanha visou essencialmente a defesa dos interesses do PSD. Se Alberto Figueiredo apoia incondicionalmente Benjamim Pereira e o seu programa, é porque se revê e se identifica com os mesmos e porque entende que são os melhores para o concelho. Acredito que Alberto Figueiredo encontre em Benjamim Pereira as qualidades políticas e de personalidade que entende serem fundamentais para quem exerça a presidência do município esposendense, lugar que já foi seu e que tão bem conhece. Tem naturalmente um ponto de vista diferente do meu, mas tal não constitui razão para lhe fazer qualquer crítica ou para ficar melindrado pelo facto de se ter empenhado em não permitir o meu regresso às funções que assumi aos 28 anos, quando o substituí na presidência municipal. Quanto ao seu reaparecimento na política local, quer em iniciativas municipais, quer em iniciativas partidárias, para mim é um bom prenúncio. É o prenúncio de que poderá ter voltado atrás na decisão de nunca mais se envolver em política e que poderá vir a ser uma forte possibilidade como candidato do PSD à presidência da Câmara Municipal em 2021, o que a acontecer seria ótimo, porque o Município precisa urgentemente de um líder com competência, visão, sentido de responsabilidade e ambição, isto se quer competir e ombrear minimamente com os concelhos vizinhos, como acontecia no passado. 


Que balanço faz destes primeiros 10 meses de mandato, quer do ponto de vista da ação do Executivo, quer do ponto de vista do seu trabalho enquanto vereador da oposição? 


Julgo ser ainda muito cedo para fazer balanços. Além do mais, dos 10 meses que já passaram, estive apenas 7 como vereador, uma vez que me vi forçado a suspender o mandato durante 3 meses por motivos de saúde. De qualquer forma, e quanto ao desempenho do Executivo, há pelo menos duas ou três questões que são muito claras: os serviços municipais continuam desorganizados e sem capacidade e eficácia na resposta às necessidades dos munícipes, apesar do número de trabalhadores ter aumentado exponencialmente nos últimos 5 anos; os gastos de centenas de milhares de euros anuais com publicidade e propaganda continuam a dominar a gestão; os eventos e as festas continuam a ser a grande prioridade do Executivo; e a estratégia de fazer festas e distribuir subsídios nos 3 primeiros anos de mandato e deixar as obras para o último ano, tal como foi feito no mandato anterior e que produziu os resultados eleitorais que se conhecem, é uma estratégia que está novamente a ser seguida. No que diz respeito ao trabalho como vereador da oposição é naturalmente um trabalho difícil e que exige grande persistência, principalmente quando se lida com um Poder que está inebriado com os resultados eleitorais e que vive no mundo da fantasia, achando que tudo o que faz é maravilhoso, por mais insignificante que seja, e que não aceita críticas, nem sequer construtivas, ou reparos que lhe são feitos. Até à data o trabalho tem sido essencialmente de fiscalização da ação da Câmara e de chamadas de atenção para os erros que são sistematicamente cometidos. Infelizmente é um trabalho que se torna por vezes inglório, porque tem pouca visibilidade. Enquanto o presidente da Câmara distribui mensalmente por todas as casas do concelho um boletim informativo/propagandístico com um chorrilho de mentiras, pago com os nossos impostos, o vereador da oposição tem as redes sociais como única ferramenta disponível para divulgar o seu trabalho, ferramenta que como se sabe chega a uma percentagem limitada da população. A propósito do boletim municipal, deixo aqui um desafio à população. Se tiverem oportunidade de reler todos os números que foram distribuídos nos últimos 3 anos, vejam a quantidade de coisas que foram anunciadas e prometidas e que estão por concretizar. Seria bom que as pessoas não se limitassem a ler e a darem o que leem como adquirido. Devem monitorizar a concretização do que se anuncia e o cumprimento do que se promete. 


Desde o início do mandato que tem requerido ao presidente da Câmara Municipal, na qualidade de vereador da oposição, informações, esclarecimentos, cópias de documentos e autorização para a consulta de processos. Já teve respostas e/ou autorizações? 


Há um aspeto que se tornou claro desde muito cedo: este presidente da Câmara lida bastante mal com a transparência. Parece que vive obcecado em esconder informação e com a ideia de que alguém possa passar informação para o exterior. Mas afinal, o que a Câmara faz ou deixa de fazer, o que dá ou deixa de dar, o que aprova ou deixa de aprovar, não deve ser do conhecimento público? O que leva um autarca a recorrer a todos estes truques e estratagemas para esconder informação? Sim, porque é mesmo isso que tem acontecido. Como é do conhecimento público, desde o início do mandato que tenho requerido formalmente, porque o presidente da Câmara assim o exige, um conjunto de informações, esclarecimentos e cópias de documentos, assim como autorização para consultar processos. Nos primeiros 7 meses de mandato nem resposta tive. Só depois de ter denunciado publicamente esta sonegação de informação e de documentos, é que começaram a ser entregues a conta gotas. Um dos estratagemas utilizados para fugir ao fornecimento de documentos foi pedir um parecer a uma entidade estatal relativamente à “legalidade” do ato. O parecer já chegou e diz claramente que os documentos devem ser fornecidos não só ao vereador da oposição como a qualquer munícipe que os requeira. Ainda não os recebi, apesar do parecer já ter chegado a algumas semanas. Também ainda não tive autorização para consultar processos de licenciamento. Só para terem uma ideia, ainda estou à espera que me digam qual foi a empresa que produziu o vídeo que foi apresentado na sessão solene do Dia do Município do ano passado, pergunta que fiz na primeira reunião de câmara deste mandato, em outubro de 2017. A conclusão a que se chega é que há a preocupação de esconder informação sobre atos de gestão. O que posso garantir é que por mais difícil que seja, por mais entraves que coloquem, mesmo que não faça mais nada, enquanto vereador tudo farei para que haja transparência e esclarecimento sobre a forma como se gere o dinheiro público. 


Que diferenças existem entre o PSD de Benjamim Pereira e o PSD de João Cepa? Que diferenças existem entre a presidência municipal de Benjamim Pereira e a de João Cepa? 


Imensas. Desde logo porque cheguei à conclusão que nunca houve um PSD de João Cepa. O João Cepa sempre foi um militante, autarca e dirigente partidário malcomportado e indisciplinado, que nunca deixou de levantar a voz contra o partido sempre que estava em causa o interesse do concelho. O João Cepa, por exemplo, teria gritado a plenos pulmões contra o Governo PSD quando este esvaziou de competências o Tribunal de Esposende. Aliás, o João Cepa desfiliou-se quando o Governo PSD desrespeitou e prejudicou o concelho. Por isso nunca houve um PSD de João Cepa. Por isso e porque sempre resistiu às tentações da partidarite nos atos e nas opções. O João Cepa sempre foi respeitado dentro do PSD não porque fosse um defensor incondicional do partido, mas porque ganhava eleições e porque tinha o poder. Mas também esta forma de estar nunca fez de mim menos social-democrata que outros. Aliás, sempre preferi este estatuto de militante indisciplinado ao de fazer aquelas cenas tristes que outros fazem, como a de participarem num comício, ao lado de uma imagem gigante de Francisco Sá Carneiro, a criticarem e atacarem quem decide ser candidato independente em alternativa ao PSD, chamando a si toda a autoridade moral e sugerindo-se como exemplo de lealdade partidária, e meses depois saírem para fundarem um partido concorrente. Quanto às diferenças entre a presidência de João Cepa e a presidência de Benjamim Pereira, são tantas que para não ser fastidioso vou ter de resumir a uma simples frase: Benjamim Pereira é o presidente do convívio e das festas, João Cepa era o presidente do trabalho e das obras. Benjamim Pereira é o presidente “bonzinho”, João Cepa era o presidente “mau feitio”. A população deixou claro em outubro passado que prefere o primeiro. Resta-me respeitar a preferência. 


Tem manifestado publicamente a sua preocupação relativamente áquilo que têm sido as prioridades do atual presidente da Câmara Municipal, no que diz respeito aos investimentos e à estratégia de desenvolvimento para o concelho. No mesmo sentido, há quem considera que na gestão dos destinos do concelho de Esposende a competência foi substituída pelo populismo, fazendo-se com frequência referência à fábula da Cigarra e da Formiga. Concorda com esta perspetiva? O que o preocupa na realidade? 


O que mais me preocupa é o futuro do concelho, que é o mesmo que dizer que me preocupa o futuro dos nossos filhos e a possibilidade de continuarem a viver cá. A atual situação do Município faz-me lembrar aquela fruta reluzente e de aspeto apetitoso que se encontra normalmente nas grandes superfícies e que quando a abrimos constatamos que afinal está podre por dentro. Estamos a viver no mundo da fantasia e do deslumbramento, isto enquanto os concelhos vizinhos nos estão literalmente a comer as papas na cabeça. Desculpem-me a expressão, mas é a que melhor retrata o que nos está a acontecer. Hoje não passamos do tipo porreiro que se dá bem com toda a gente, mas a quem toda a gente passa a perna. Já viram a dinâmica com que estão concelhos como Viana do Castelo, Barcelos ou Póvoa de Varzim? Já viram a quantidade de empresas que deixaram Esposende para se mudarem para esses concelhos? Há alguma coisa mais importante para o crescimento de um concelho do que a criação de emprego e a melhoria da qualidade de vida? E nós o que fazemos em Esposende? Fazemos umas obrazinhas para contentar autarca e morador de rua, semeamos quilómetros de ciclo e ecovias cuja manutenção nos vai custar os olhos da cara, atribuímos uns subsídios às associações locais e fazemos tantas festas que já nem sabemos se temos uma Câmara Municipal ou uma promotora de eventos. Diz o presidente da Câmara que a nossa aposta é no Turismo. Mas qual Turismo? Aquele que vem de manhã para a praia e vai embora ao final do dia, deixando lixo e não comprando sequer um café? Ou o que enche o Largo dos Bombeiros nos concertos de Verão? Esses não são turistas, são visitantes. São esses que vão permitir que o comércio sobreviva 365 dias por ano? É triste, mas o concelho está sem rumo e sem uma estratégia de crescimento. Se dúvidas houvesse, veja-se a resposta dada pelo presidente da Câmara quando foi desafiado pela bancada do JPNT na Assembleia Municipal a indicar aquele que considera ter sido o principal projeto estruturante idealizado, projetado e concretizado no mandato anterior: a resposta foi… o programa de apoio às rendas. Julgo não ser necessário dizer mais nada. 


Se a população o tivesse escolhido para voltar a presidir à Câmara Municipal de Esposende, quais teriam sido as suas primeiras medidas e que investimentos elegeria como prioritários? 


A primeira medida teria sido reorganizar os serviços municipais, pondo-os a funcionar novamente com eficácia e eficiência. Da mesma forma, tomaria medidas imediatas de gestão no sentido de cortar com o despesismo e com o desperdício dos recursos municipais. A ação municipal voltaria a estar centrada na resolução dos problemas dos munícipes e não na promoção dos autarcas. Quanto aos investimentos prioritários, eles estavam bem explícitos no Programa de Governo Municipal 2017-2021 que o JPNT elaborou e apresentou à população, e que ao contrário de outros não foi copiado de ninguém. Não os vou estar a referir novamente porque para além de me tornar ainda mais exaustivo, na verdade também não foram aqueles que foram escolhidos pela população. De qualquer forma, não posso deixar de destacar a necessidade de criação de um novo Parque Empresarial, de iniciativa exclusivamente municipal (sem terrenos privados, sem especulação imobiliária e sem negócios privados de construção e venda de micro-pavilhões), que permitisse tornar o concelho competitivo na captação e fixação de empresas; a aposta na Educação/Cultura, nomeadamente com a criação do Conservatório de Música e Artes de Esposende; o alargamento da oferta da rede de equipamentos e serviços sociais, especialmente para os idosos; e a valorização do território, nomeadamente através da criação do Parque Urbano. 


Desde o mandato anterior que a Câmara Municipal tem andado a anunciar grandes projetos e grandes investimentos para Esposende, como seja o Centro de Negócios, o Parque da Cidade, o Centro de Incubação de Base Tecnológica Nacional e Internacional de Empresas; o Instituto Multidisciplinar de Ciência e Tecnologia Marinha, a criar na Estação Radionaval de Apúlia; o Centro de Divulgação Científica, a criar no Forte de S. João Baptista; etc. Acha que é viável a concretização destes projetos? 


Espero sinceramente que sejam concretizados. Contudo, e depois daquilo a que tenho assistido nos últimos 5 anos, já é como S. Tomé: ver para crer. O Centro de Negócios ainda não sei bem o que é, exceto que foram pagos a um autarca do PSD, em apenas um ano, 100 mil euros de rendas por um espaço que nunca foi utilizado. O Parque da Cidade, cujo projeto foi apresentado com pompa e circunstância na véspera das eleições, ainda não se viu nada e julgo que nem sequer há 1 m2 de terreno adquirido. Quanto à Estação Radionaval de Apúlia e ao Forte de S. João Baptista, o que sei é que o presidente da Câmara meteu na gaveta o acordo que eu tinha feito com o Governo, antes de abandonar a presidência, porque não queria ter de repartir mérito, fazendo um novo acordo, que é bem menos vantajoso para o Município. Em suma, aguardemos para ver no que é que dá. Julgo que na pior das hipóteses, lá para julho ou agosto de 2021 teremos mais uns vídeos de apresentação de projetos e mais umas estruturas espalhadas pelas ruas com imagens 3D, com promessas de concretização. Falta saber o que dirá a população. É que à primeira todos caiem, mas à segunda… 


A Câmara Municipal gastou entre 2014 e 2017 qualquer coisa como 1 milhão, 643 mil, 736 euros em publicidade e trabalhos de tipografia. Para esclarecimento dos que utilizam habitualmente a expressão "sempre foi assim", quanto gastava a Câmara Municipal no seu tempo de presidente? 


Sem poder precisar valores, uma vez que a Câmara Municipal retirou do seu site os relatórios de gestão anteriores a 2013, provavelmente porque não queria que se fizessem comparações, julgo que no meu tempo as despesas com publicidade e trabalhos de tipografia rondavam os 70 mil euros anuais, ou seja, cerca de 280 mil euros durante o mandato, um “pouco” diferente dos 1,6 milhões de euros gastos no mandato anterior. Essa expressão do “sempre foi assim” é habitualmente utilizado ou por quem vive no mundo da ignorância ou por quem tem falta de argumentos na defesa partidária. Mas o que mais me preocupa no meio disto tudo é constatar que, de uma forma geral, as pessoas são muito pouco exigentes relativamente à forma como o dinheiro dos seus impostos é gasto. As pessoas reclamam porque acham que pagam muito de água, resíduos, IMI, IMT, etc, mas depois ficam indiferentes à forma como esse dinheiro é aplicado. Para mim, uma câmara com a dimensão da de Esposende, gastar 1,6 milhões de euros em publicidade e em tipografia em 4 anos é um escândalo. Infelizmente parece que somos poucos a ter esta opinião. 


A Câmara Municipal de Esposende foi uma das autarquias que foi recentemente alvo de buscas por parte da Polícia Judiciária no âmbito da denominada “Operação Tutti Fruti”, que investiga alegados favorecimentos a empresários ligados ao PSD. Na última Assembleia Municipal o presidente da Câmara não só desvalorizou as buscas, tendo inclusive associado as mesmas ao vereador da JSD, como insinuou que no passado também teriam ocorrido buscas. O que tem a dizer sobre este assunto? 


Em primeiro lugar lamentar que o nome de Esposende tenha surgido na comunicação social por essas razões. Com fundamento ou sem fundamento, é péssimo para a imagem do Município. Em segundo lugar, desejar que os processos em causa sejam rapidamente esclarecidos, deixando que a Justiça faça o que tiver de ser feito. Por último, e quanto às insinuações feitas pelo presidente da Câmara, área na qual ele é especialista, gostaria de esclarecer que como não estive nessa Assembleia Municipal, por estar com mandato suspenso, enviei de imediato um email ao presidente da Câmara a solicitar esclarecimentos e uma clarificação, nomeadamente que me dissesse se tinha conhecimento de alguma busca efetuada no período compreendido entre 1998 e 2013 e se algum dos processos alvo de investigação na busca ocorrida recentemente era relativo a esse período. Como seria de esperar não obtive resposta, porque o presidente da Câmara é tão bom a insinuar como é bom a ficar calado quando se trata de esclarecer, mas deixo eu o esclarecimento. Enquanto exerci as funções de presidente da Câmara recebemos de facto alguns pedidos de informação e de cópias de documentos por parte da Polícia Judiciária, na sequência da receção de denúncias anónimas, mas nunca houve buscas ao Município como houve agora. Nenhum dos processos que estão a ser alvo de investigação neste momento diz respeito ao período anterior a 2013. 


Este ano comemoram-se os 25 anos da elevação de Esposende a cidade. Para assinalar a efeméride a Câmara Municipal procedeu à edição de um livro, no qual se destaca apenas o dia e ano em que a elevação se concretizou, não se retratando a História do concelho dos últimos 25 anos. Acha que foi propositado para branquear os seus 15 anos de presidência? 


Não sei se foi propositado, mas também não é algo que me preocupe ou que mereça a minha atenção. A História não se faz dos livros que a Câmara Municipal publica e dos prefácios que o presidente escreve. A História faz-se das obras, das concretizações e da memória dos esposendenses. Tudo o resto é politiquice barata, mesquinha e básica. 


O PSD chumbou a sua proposta de atribuição da Medalha de Mérito Cultural aos criadores e responsáveis pelo Coro de Pequenos Cantores de Esposende e Coro ARS Vocalis: Helena Venda Lima, Carlos Pinto da Costa e Diogo Zão. Acha que foi uma retaliação pelo facto da Helena Venda Lima o ter apoiado nas últimas eleições? 


Deixe-me começar por dizer que, pelas razões que já tive oportunidade de explicar publicamente, a atribuição desta distinção a estes 3 cidadãos era mais do que merecida e mais do que justa. Quanto às razões que levaram o presidente da Câmara e os vereadores do PSD a votarem contra, só posso mesmo especular, porque não tiveram sequer a preocupação de explicarem por que razão chumbaram a minha proposta. Não sei se foi por ser uma proposta minha, se foi por a Helena Venda Lima ter sido minha apoiante, ou por acharem que o trabalho realizado por estas 3 pessoas não tem assim tanto mérito. O que sei é que o desejo de afastarem a Maestrina Helena Venda Lima da direção dos coros e de afastarem o Prof. Pinto da Costa da direção da Escola de Música já vem do mandato anterior e só não foi concretizado porque os pais manifestaram na altura o seu desagradado e se teve receio das consequências políticas. Preocupa-me muito esta postura de terra queimada. Preocupa-me muito a possibilidade desta obsessão quase doentia de se envolver sempre a política partidária em todos os assuntos municipais nos levar a perder pessoas com muito valor e que podem fazer ainda muito mais pelo concelho. Fez história aquele político que um dia disse “Quem se mete com o PS leva!”. Por cá talvez tenhamos de fazer uma pequena adaptação para “Quem não me apoiou, leva!”. Mas a verdade é que no final quem “leva” é o concelho ao estar sujeito à satisfação de egos pessoais. 


Acredita que é possível tirar o PSD do poder autárquico no concelho de Esposende? 


Na última campanha eleitoral, durante a visita a uma freguesia do norte do concelho, dizia-me uma senhora: “Não se canse. O PSD ganha sempre, nem que o candidato seja o Rato Mickey!”. Eu não serei assim tão radical nessa análise. Ficou provado que o partido está muito enraizado e que ainda há muita gente que olha para o partido político como olha para o clube de futebol: voto neste porque sou deste. Julguei sinceramente que já vivíamos tempos diferentes, em que a nível local a opção se fizesse por pessoas e não por partidos. Aparentemente ainda estamos um pouco longe desse patamar. Nunca foi minha intenção tirar o PSD do poder. O que eu desejo como munícipe, como contribuinte e como pai, é que alguém afaste da câmara a incompetência, a falta de visão e a falta de ambição. Se é um dado adquirido que o PSD ganha sempre, então deixo aqui o desafio aos dirigentes, militantes e votantes do PSD que escolham pessoas que estejam à altura dos desafios e das necessidades do concelho. 


Perante o resultado que obteve em outubro passado, muita gente se questionou se assumiria o lugar de vereador de oposição e se levaria o mandato até ao final. Vai fazê-lo? 


Eu não só tento cumprir sempre com as promessas que faço, como defendo que os mandatos são para levar até ao final, a não ser que motivos de força maior o impeçam. Tal como disse no dia 17 de março de 2017, quando apresentei a minha candidatura à presidência da câmara municipal, a minha intenção foi perguntar aos esposendenses se queriam que eu assumisse novamente as funções de presidente do Município. Se a maioria respondesse que não, como veio a acontecer, levaria o meu mandato como vereador da oposição até ao final e em 2021 encerraria definitivamente a minha passagem pela política, publicando nessa altura as minhas memórias. É exatamente isso que vai acontecer. Se Deus me der vida e saúde, serei vereador até outubro de 2021 e nessa altura fecharei a gaveta da política e publicarei as minhas memórias, que por acaso até já estão prontas. Só não as publico de imediato porque alguns dos que se riem para mim pela frente e me atacam pelas costas, deixarão certamente de se rir e eu não lhes quero retirar esse “prazer”. 


Apesar de ainda estarmos a 3 anos de distância das próximas eleições, já muita gente se questiona sobre o seu futuro político e sobre o futuro do movimento JPNT. Em 2021 o JPNT irá novamente a votos, apresentando-se como uma alternativa ao PSD? Se sim, será João Cepa a liderar novamente o movimento, candidatando-se novamente à presidência do Município? 


No que à minha pessoa diz respeito, a resposta já foi dada na resposta anterior: não serei candidato. Aliás, a partir do momento em que em outubro passado, em cada 100 eleitores 80 disseram que não se revêm na minha forma de trabalhar e de gerir os destinos do concelho, não faz qualquer sentido pensar numa nova candidatura. Quanto ao JPNT, espero sinceramente que se encontrem condições para surgir novamente uma candidatura independente que se apresente como alternativa ao atual Poder, assim como espero que até lá todos aqueles que votam num partido só porque é o seu partido, pensem bem se essa é a melhor forma de defender o futuro da sua terra, dos seus filhos e dos seus netos.